quinta-feira, abril 14, 2005

milisegundos

... era uma noite perfeita. Estavas comigo, eu ia a guiar. Saímos para ver o corpo de Lisboa. O Tejo ajuda-nos a relativizar as coisas e a pensar na outra vida, que se estende por cima daquela que vivemos. Esse viver era o que eu mais queria. Pedia todos os dias para que acontecesse e, naquela noite, estava diante dessa realização. É uma sensação de aniquilamento onírico, em que o sonho toca tangencialmente a vida e ameaça continuamente ir embora. É como estar exactamente perpendicular ao fio da navalha... ela corta a primeira camada de pele, sem dor. Não vai mais fundo.

E só pensava em estar à altura daquilo. Daquela terra de ninguém no cimo da montanha. Media a todos os segundos a qualidade da vida toda que tive. Como podia reagir ao cair e como podia sustentar uma realidade engordada pelo sonho? Tudo era intenso e propositado. Até as beatas no chão, os candeeiros, as ruas, o próprio ar que respirava. A dúvida esfaqueava-me e eu ia deixando porque queria sentir o grande pulsar. Fiz uma troca com a dúvida. Estavas tão bonita. Era inevitável: qualquer sinal teu, voluntário ou involuntário, fosse respirar ou fosse dar um pequeno passo para aliviar as pernas paradas, fosse olhar-me, era mais que um mundo. Era magia de poeira imaterial.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

e depois?...o que aconteceu?
m

4:02 da tarde  

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