- Bom dia.
- Bom dia.
- Olhe, queria um comprimido... mas não sei se tem...
- Diga, é para quê?
- Hmm... É para mim. Desculpe a aparente estupidez mas... Tem comprimidos para o orgulho? Ou pelo menos para atacar a vaidade?
- Er... Um momento que vou ver.
- Mas um que resulte... como um estalo. Não me pode deixar dúvidas.
- Um momento.
Passados 2 minutos.
- Bem, não sei se está a procurar a coisa certa no sítio certo.
- Tenho ouvido isso um pouco por toda a minha vida. Isso não é novidade. Preciso de qualquer coisa que acabe com o meu orgulho e me devolva a dignidade, sobriedade...
- Compreendo mas... não sei se a posso ajudar.
- Também tenho ouvido isso toda a minha vida. Não sabe se pode ajudar? Porquê? Talvez possa ajudar ou pensa que se calhar não posso ser ajudada? Ou tem ou não tem. Desculpe mas peço-lhe que seja frontal com uma frontalidade... de farmacêutico.
- Eu vou buscar. Um momento.
Passados 2 minutos, 30 segundos.
- Pronto tem aqui - passa uma caixa de aspirina à cliente.
- Aspirina?
- Sim, penso que pode ajudar.
- Como?
- Talvez lhe anestesie o orgulho e lhe tire a força.
- Hmm. Eu preferia acabar logo com ele mas está bem, vou experimentar. Quantas posso tomar por dia?
- Não convém abusar. Sugiro uma após cada refeição.
- E se não der efeito?
- Experimente.
- Sim.
E lá foi. Com dúvidas sobre o remédio e o seu potencial efeito. A aspirina trazia-lhe, de facto, boas recordações: a dor de dentes que passou, aquele dia em que escaldava de febre e sentiu um refrescar. Às vezes é preciso anestesiar também as pulsões mas isso não é fácil.
Chegou a casa e estendeu-se em cima da cama. "Como pude ir pedir tal coisa a uma farmácia?", pensava. Não podia ficar a questionar-se muito tempo. Tem que trabalhar e, se possível, sem orgulho.