Cérebro

Nem quero escrever.

Quero respirar com o cérebro.

Rochedo

Tá feito. Acabaram-se as concessões. Tornei-me um rochedo de significado.

La Donna

La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento — e di pensiero.
Sempre un amabile,
Leggiadro viso,
In pianto o in riso, — è menzognero.
È sempre misero
Chi a lei s'affida,
Chi le confida — mal cauto il cuore!
Pur mai non sentesi
Felice appieno
Chi su quel seno — non liba amore!

(Francesco Maria Piave)

Sino

O sino da Igreja aqui ao pé está sem Tónica, a nota principal de uma escala diatónica.

Os

Escolhidos dedo a dedo. Com uma delicateza que vem do cuidar da vida; como abelhas em equilíbrio com a flor. Bichos da seda sobre as amoreiras.

São os que ficam. Os que importam. Aqueles que carregam uma luz de bondade. Os que não hesitam entre ser e não ser humano. Só uma escolha possível: ser.

De inocência se vestem.

Quase nus, parecem.

Fortes na fraqueza de ser quem são.

Amarelos vivos dum limão.

Hoje

Esta tinha sido a noite ideal para não dormir sozinho.

5 e trinta e um

Afinal não há bónus de bom comportamento. Há apenas o vazio frio da matéria negra. Armazena em si uma grande força.

Olho o meu corpo de matéria orgânica. Casca do ser. Valor para se desperdiçar. Valha a luxúria do arquitecto.

Deparo-me com a impossibilidade do encontro humano. O nojo do outro ser que nunca parece corresponder à noção de Homem. Sempre algo aquém. Sempre aquilo que, querendo muito, é melhor não querer. Farto.

Não sei se feliz é quem não é. Se quem é e teve sorte.